sexta-feira, 23 de outubro de 2009


“O importante e bonito do mundo é isso:
que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando.
Afinam e desafinam”.

Guimarães Rosa

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Três sujeitos íntimos




Nicodemus, Nicomedes e Nicobar eram três irmãos. Nicodemus viu o ovo; Nicomedes viu a Eva; Nicobar viu a ave. Nicodemus era datilógrafo amador rapidíssimo; Nicomedes estudou a filosofia dos sonhos; Nicobar aprendeu a tocar de ouvido o poeta Garcia. Nicodemus confiava mais na ira do Deus vivo que em Sua misericórdia; Nicomedes andava depressa e promoveu greves de bonde; Nicobar tinha medo de cães e música erudita. Nicodemus se lembrava com terror de seu avô Nicolau, morto aos 89 anos , nu, em Minas, pulando de um telhado ; Nicomedes não aprendeu a dar laços de gravata; Nicobar apanhava no ar qualquer objeto que se despencasse, mas nunca deu resposta a uma carta. Touro, Capricórnio, Peixes. Nicodemus não despia o casaco dentro de casa, fumava no escuro, com horror que alguém tocasse a campainha de madrugada; Nicomedes praticava o suicídio qüinqüenal; Nicobar bebia demais.
Nicodemus, Nicomedes e Nicobar eram três irmãos. O primeiro falava francês; o segundo falava coisas – pura, púrpura, grande duque imerso em cinzas – para não ficar louco; o terceiro, se falava, era tocado por um anjo, que o silenciava.
Nicodemus, Nicomedes e Nicobar eram três máquinas humanas, três partituras partidas, três telegramas anônimos. Dum pedaço de madeira, Nicodemus compunha um crucificado; de contrário aglutinados, Nicodemus se ria; com uma palavra embrulhada, Nicobar se afastava.
Nicodemus, Nicomedes e Nicobar eram três mastins: Sumedocin, Sedemocin, Rabocin. Três irmão mastins. Sudemocin meditava; Sedemocin inventava, Rabocin imaginava. Gania, grugulejava, crocitava. Vinculum, vínculo, vinco, vinco. Polypum, pólipo, polvo. Strike, struck, stricken.
Nicodemus, Nicomedes e Nicobar só tinham duas coisas em comum: o fogo profundo que acende os objetos, consumindo-os; e a lembrança silenciosa de Nicolino: Onilocin.

Paulo Mendes Campos

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Cambia lo superficial
cambia también lo profundo
cambia el modo de pensar
cambia todo en este mundo

Cambia el clima con los años
cambia el pastor su rebaño
y así como todo cambia
que yo cambie no es extraño

Cambia el mas fino brillante
de mano en mano su brillo
cambia el nido el pajarillo
cambia el sentir un amante

Cambia el rumbo el caminante
aunque esto le cause daño
y así como todo cambia
que yo cambie no extraño

Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia

Cambia el sol en su carrera
cuando la noche subsiste
cambia la planta y se viste
de verde en la primavera

Cambia el pelaje la fiera
Cambia el cabello el anciano
y así como todo cambia
que yo cambie no es extraño

Pero no cambia mi amor
por mas lejos que me encuentre
ni el recuerdo ni el dolor
de mi pueblo y de mi gente

Lo que cambió ayer
tendrá que cambiar mañana
así como cambio yo
en esta tierra lejana

Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia

Pero no cambia mi amor...

Mercedes Sosa