quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
"Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim."
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu
destino aos meus versos,
Foi Ele quem arrancou deles
a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de indivíduo
ainda maior, embora mais justa.
Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reverberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.
Esse Deus sabe que alguém é apenas
o singular da palavra multidão
Eh mundão
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.
O Deus que cuida do
não-desperdício dos poetas
deu-me essa festa
de similitude
bateu-me no peito do meu amigo
encostou-me a ele
em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão da coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.
O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente
Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.
Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança
Elisa Lucinda
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Três sujeitos íntimos
Nicodemus, Nicomedes e Nicobar eram três irmãos. Nicodemus viu o ovo; Nicomedes viu a Eva; Nicobar viu a ave. Nicodemus era datilógrafo amador rapidíssimo; Nicomedes estudou a filosofia dos sonhos; Nicobar aprendeu a tocar de ouvido o poeta Garcia. Nicodemus confiava mais na ira do Deus vivo que em Sua misericórdia; Nicomedes andava depressa e promoveu greves de bonde; Nicobar tinha medo de cães e música erudita. Nicodemus se lembrava com terror de seu avô Nicolau, morto aos 89 anos , nu, em Minas, pulando de um telhado ; Nicomedes não aprendeu a dar laços de gravata; Nicobar apanhava no ar qualquer objeto que se despencasse, mas nunca deu resposta a uma carta. Touro, Capricórnio, Peixes. Nicodemus não despia o casaco dentro de casa, fumava no escuro, com horror que alguém tocasse a campainha de madrugada; Nicomedes praticava o suicídio qüinqüenal; Nicobar bebia demais.
Nicodemus, Nicomedes e Nicobar eram três irmãos. O primeiro falava francês; o segundo falava coisas – pura, púrpura, grande duque imerso em cinzas – para não ficar louco; o terceiro, se falava, era tocado por um anjo, que o silenciava.
Nicodemus, Nicomedes e Nicobar eram três máquinas humanas, três partituras partidas, três telegramas anônimos. Dum pedaço de madeira, Nicodemus compunha um crucificado; de contrário aglutinados, Nicodemus se ria; com uma palavra embrulhada, Nicobar se afastava.
Nicodemus, Nicomedes e Nicobar eram três mastins: Sumedocin, Sedemocin, Rabocin. Três irmão mastins. Sudemocin meditava; Sedemocin inventava, Rabocin imaginava. Gania, grugulejava, crocitava. Vinculum, vínculo, vinco, vinco. Polypum, pólipo, polvo. Strike, struck, stricken.
Nicodemus, Nicomedes e Nicobar só tinham duas coisas em comum: o fogo profundo que acende os objetos, consumindo-os; e a lembrança silenciosa de Nicolino: Onilocin.
Paulo Mendes Campos
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
cambia también lo profundo
cambia el modo de pensar
cambia todo en este mundo
Cambia el clima con los años
cambia el pastor su rebaño
y así como todo cambia
que yo cambie no es extraño
Cambia el mas fino brillante
de mano en mano su brillo
cambia el nido el pajarillo
cambia el sentir un amante
Cambia el rumbo el caminante
aunque esto le cause daño
y así como todo cambia
que yo cambie no extraño
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia el sol en su carrera
cuando la noche subsiste
cambia la planta y se viste
de verde en la primavera
Cambia el pelaje la fiera
Cambia el cabello el anciano
y así como todo cambia
que yo cambie no es extraño
Pero no cambia mi amor
por mas lejos que me encuentre
ni el recuerdo ni el dolor
de mi pueblo y de mi gente
Lo que cambió ayer
tendrá que cambiar mañana
así como cambio yo
en esta tierra lejana
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Pero no cambia mi amor...
Mercedes Sosa
terça-feira, 29 de setembro de 2009
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Possível?
Inexistência de medo;
Purificação da vida;
Compreensão transcedental;
Caridade; autocontrole;
Prática de sacrifícios;
Estudo dos textos védicos
Austeridade; humildade;
Não-violência; não irar-se;
Desapego; gentileza
Veracidade; renúncia;
Não gostar de ver defeitos;
Determinação; modéstia
Compaixão para com todas
as entidades viventes
estar livre da cobiça;
cordialidade; clemência;
Vigor; pureza; limpeza;
Não desejar ser honrado
Arnaldo Antunes
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Odô, axé odô, axé odô, axé odô
Odô, axé odô, axé odô, axé odô
Isso é pra te levar no ilê
Pra te lembrar do badauê
Pra te lembrar de lá
Isso é pra te levar no meu terreiro
Pra te levar no candomblé
Pra te levar no altar
Isso é pra te levar na fé
Deus é brasileiro
Muito obrigado axé
Ilumina o mirin orumilá
Na estrada que vem a cota
É um malê é um maleme
Quem tem santo é quem entende
Quanto mais pra quem tem ogum
Missão e paz
Quanto mais pra quem tem ideais e
Os orixás
Joga as armas prá lá
Joga, joga as armas pra lá
Joga as armas pra lá
Faz a festa
Joga as armas prá lá
Joga, joga as armas pra lá
Joga as armas pra lá
Faz um samba
Joga as armas prá lá
Joga, joga as armas pra lá
Joga as armas pra lá
Traz a orquestra
Carlinhos Brown
linda música.. lindas cantando juntas!
http://www.youtube.com/watch?v=XjKaLJXa7v8&feature=related
essa musica da vontade de cor, vontade de viver mais, vontade de céu, vontade de vc!
calma boa no peito!
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
O esquerdo e o direito das coisas.
De um lado tem os sonhos, mesmo que em tons de cinza muitas vezes.
Tem a música, a poesia, o amor que é delicado e verdadeiro ainda que rude na maneira de se expressar.
Tem a vontade dos dedos deslizando as cordas imaginarias do meu violão.
De um lado tem tudo que poderia ser. Tem a alma que anseia leveza contrariando as pernas.
A mente que vibra mantras mesmo diante tanta poluição sonora.
Tem gosto pelo azul, pelos amigos, pelos meus. Tem malas prontas para a viagem.
Olhos bem abertos para manhas calmas de outono e pés que caminham encantados nas tardes de primavera.
Do outro lado têm o pão de cada dia, as contas empilhadas na gaveta gritando à memória que é preciso seguir.
Tem o medo do passo em falso, a punição pelo passo não dado.
Desse outro lado, correntes antigas e sumarentas, arrastadas a vinte anos mais nove ressumam a estranhes que há em mim.
Tem o receio da não admiração alheia.
Tem os sentimentos de vileza dado ao ser humano – carregue!
O peso dos ombros, os olhos que chora a espera da morte ainda que velada.
E em dias de frio na alma, pensamentos e sentimentos curtos os dois lados se misturam e cega meu coração.
Thania Furbino.
26 de agosto de 2009 / 20:53h
"Por esse pão prá comer, por esse chão prá dormir
A certidão prá nascer e a concessão prá sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir, Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair, Deus lhe pague
Pela mulher carpideira prá nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir, Deus lhe pague"
Chico Buarque
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Eh, vida, vida
Que amor brincadeira, Vera
Eles amaram de qualquer maneira, Vera
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor vale amar
Eilá, que pena
Que coisa bonita, diga
Qual a palavra que nunca foi dita, diga
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor vale amar
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor valerá
Eles se amam de qualquer maneira, Vera
Eles se amam é pra vida inteira, Vera
Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira me vale cantar
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá
Miltão
quinta-feira, 30 de julho de 2009
30 de julho
"Gosto muito de te ver, leãozinho
Caminhando sob o sol
Gosto muito de você, leãozinho
Para desentristecer, leãozinho
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você no caminho
E um filhote de leão raio da manhã
Arrastando o meu olhar como um ímã
E o meu coração é o sol, pai de toda cor
Quando ele lhe doura a pele ao léu..
Tua pele, tua luz, tua juba"
Caetano Veloso
segunda-feira, 20 de julho de 2009
terça-feira, 7 de julho de 2009
Travessia
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Adorooooooo
Árvore frondosa, da família do gengibre e da cúrcuma, produz pequenos frutos verdes ou negros que guardam minúsculas sementinhas perfumadas. De natureza quente, acre-doce, muito aromática e ligeiramente canforada é morder para crer, a boca se enche de um gosto bom, o hálito de um perfume fresco.
Não é à-toa que está associado ao amor. Fora citado nas histórias de As mil e uma noites. Os árabes não as dispensam, colocando-as no café que servem aos amigos, para estreitar os laços.
Rosa Nepomuceno - Viagem ao Fabuloso mundo das especiarias.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
12 de junho
Façamos (Vamos Amar)
Chico Buarque
Os cidadãos no Japão fazem
Lá na China um bilhão fazem
Façamos, vamos amar
Os espanhóis, os lapões fazem
Lituanos e letões fazem
Façamos, vamos amar
Os alemães em Berlim fazem
E também lá em Bonn
Em Bombaim fazem
Os hindus acham bom
Nisseis, níqueis e sansseis fazem
Lá em São Francisco muitos gays fazem
Façamos, vamos amar
Os rouxinóis nos saraus fazem
Picantes pica-paus fazem
Façamos, vamos amar
Uirapurus no Pará fazem
Tico-ticos no fubá fazem
Façamos, vamos amar
Chinfrins, galinhas afim fazem
E jamais dizem não
Corujas sim fazem, sábias como elas são
Muitos perus todos nus fazem
Gaviões, pavões e urubus fazem
Façamos, vamos amar
Dourados no Solimões fazem
Camarões em Camarões fazem
Façamos, vamos amar
Piranhas só por fazer fazem
Namorados por prazer fazem
Façamos, vamos amar
Peixes elétricos bem fazem
Entre beijos e choques
Cações também fazem
Sem falar nos hadoques
Salmões no sal, em geral, fazem
Bacalhaus no mar em
Portugal fazem
Façamos, vamos amar
Libélulas em bambus fazem
Centopéias sem tabus fazem
Façamos, vamos amar
Os louva-deuses com fé fazem
Dizem que bichos de pé fazem
Façamos, vamos amar
As taturanas também fazem
com um ardor incomum
Grilos meu bem fazem
E sem grilo nenhum
Com seus ferrões os zangões fazem
Pulgas em calcinhas e calções fazem
Façamos, vamos amar
Tamanduás e tatus fazem
Corajosos cangurus fazem
Façamos, vamos amar
(Vem com a mãe)
Coelhos só e tão só fazem
Macaquinhos no cipó fazem
Façamos, vamos amar
Gatinhas com seus gatões fazem
Tantos gritos de ais
Os garanhões fazem
Esses fazem demais
Leões ao léu, sob o céu, fazem
Ursos lambuzando-se no mel fazem
Façamos, vamos amar
Façamos, vamos amar
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Bambino
E se o ferro ferir
E se a dor perfumar
Um pé de manacá
Que eu sei existir
Em algum lugar
E se eu te machucar
Sem querer atingir
E também magoar
O seio mais lindo que há
E se a brisa soprar
E se ventar a favor
E se o fogo pegar
Quem vai se queimar
De gozo e de dor
E se for pra chorar
E se for ou não for
Vou contigo dançar
E sempre te amar amor
E se o mundo cair
E se o céu despencar
Se rolar vendaval
Temporal carnaval
E se as águas correrem
Pro bem e pro mal
Quando o sol ressurgir
Quando o dia raiar
É menino e menina
Bambino, bambina
Pra quem tem que dar
No final do final
E se a noite pedir
E se a chama apagar
E se tudo dormir
O escuro cobrir
Ninguém mais ficar
Se for pra chorar
E uma rosa se abrir
Pirilampo luzir
Brilhar e sumir no ar
Se tudo falir
O mar acabar
E se eu nunca pagar
O quanto pedi
Pra você me dar
E se a sorte sorrir
O infinito deixar
Vou seguindo seguir
E quero teus lábios beijar
Ernesto Nazareth
quarta-feira, 3 de junho de 2009
VII
Vontade de entardecer na roça
galinha no puleiro, sol desmaiando lentamente nos
braços da montanha
cheiro de café forte, feijão cozinhando pro almoço de amanhã.
vontade de conversa de roda na porta das casas.
da cachaça das seis pra aliviar o peito carregado de dias tranqüilos.
melodia dos pássaros chamando a noite com seu manto de estrelas.
noite fria, lua alta!
as palmeiras da praça, imponentes, a sustentar sonhos e historias.
vontade de casa de mãe, colo de vó, sorriso de tio, abraço de irmão, histórias de pai.
Vontade de casa.
Thania Furbino
03/06/2009
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Pra uma pessoa forte...
Na dor da alma diante de mais um novovelho diagnostico.
Outra vez não bastou o amor, não bastou a vida doada.
Mas como preencher espaços cheios de vazio demais?
Batalha desleal contra sentimentos e falta deles.
E numa tarde de outono de mais um ano na miragem dos seus 24
“Vamos começar tudo de novo”!
Os papeis, os exames, a borracha que apaga o tempo e dias opacos...
24x você vai começar de novo
E só você sabe como fazê-lo
A outros fora dado o papel de adorno.
Thania Furbino
01 de junho de 2009
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Lição para pentear pensamentos matinais
Pensamentos matinais, desgrenhados, são frágeis como cabelos finos demais que começam a cair. Você passa a mão, e ele já não está mais ali – o fio. No travesseiro sempre restam alguns, melhor não olhar para trás: vira-se estátua de cinza. Compacta, mas cinza. Basta um sopro. Pensamentos matinais, cuidado, são alterados feito um organismo mudando de fuso horário. Não deveria estar ali naquela hora, mas está. Não deveria sentir fome às três da tarde, mas sente. Não deveria sentir sono ao meio-dia, mas. Pensamentos matinais são um abrupto mas com ponto final a seguir. Perigosíssimos. A tal ponto que há risco de não continuar depois do que deveria ser uma curva amena, mas tornou-se abismo.
E só vamos em frente porque começam a acontecer urgências. Enquanto a manhã dispara e o telefone toca e a campainha soa e as crianças vão precisam sair para a escola e o relógio de ponto ou qualquer coisa assim – incluindo os outros, sobretudo os outros – não esperam. Nada espera, ninguém. Você lava o rosto, finge não ter visto coisa alguma. É possível também ligar o rádio. Um banho frio, o café feito uma bofetada. Há pensamentos-matinais-despenteados que põe o rabo entre as pernas e dão o fora, mas outros – mulheres de Nelson Rodrigues – adoram apanhar.
Quanto mais você bate, mais ele arreganha os dentes e intica para apanhar mais. Isso magnetiza e atrai outros pensamentos, ainda mais descabelados e até então escondidos. Se era um nome, vem um sobrenome. Se era um rosto, vem a textura da pele, um cheiro um jeito de olhar. Se fantasia, ganha cor, e assim por diante. Pensamentos desse tipo são quase sempre proustianos: loucos pelo velho e bom tempo perdido.
Soluções mais grosseiras, há. Colmo papel higiênico, amarrotá-los, jogá-los na privada, dar descarga. Acontece que descargas, não quero parecer alarmista, às vezes entopem. E devolvem justamente aquilo que deveriam levar embora, num comportamento que é o avesso daquele para qual foram programadas. Ah o avesso, esse o problema. Pensamentos assim são um sintoma do avesso. E o avesso é a superfície correspondente, igual em tamanho e forma, a tudo aquilo que você considera o direito. Conhecer de cor-e-salteado o direito absolutamente não dá direito a conhecer também o outro lado. Sinto muito, mas ele sempre está lá. Incógnito, invisível, inviável. In, enfim.
Por ser assim, desordena-se. Pelas manhãs, mesmo que o de-manhã de alguns aconteça às seis da tarde. Mesmo nos calvos, a cabeleira abstrata pode amanhecer tão eriçada quanto a da Medusa. E se em vez de veneno as cobras tiverem mel? Tudo depende não me pergunte de quê. Só sei que deve-se olhar direito nos olhos deles, tocar sem nojo nem medo suas mãos cobertas de musgo, teias de aranha. Passar num susto a mão pelos cabelos, reais ou não. Deve-se sempre com a doçura e paciência possíveis nessas situações, mudar rápido de assunto. Ou cair no poço.
Caio Fernando Abreu
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Ando com vontade de poesia
Saudade dela deslizando em minha veia
misturada ao sangue quente (como antigamente?)
poesia obstruindo meus poros cegando meus olhos
Ando com vontade de poesia
Vontade de comê-la
Bebê-la
Saudade de poesia...
Poesia–cheiro
Poesia-lembrança
Poesia-rima
Poesia-toque
Ando com vontades!
Thania Furbino 21/05/2009
terça-feira, 19 de maio de 2009
Do que sempre existiu...
ois...
olha isso,
encontrei na minha caixa de rascunho , na caixa de email,fragmento de email q jah havia mandado a vc
achei q fosse necessário enviá-lo novamente.
então,
...nosso olhar é algo q desnuda a alma, e a nossa despedida é algo não querido, e a sua presença e o nosso caminhar juntas é algo q tem sabor de eternidade, sabor de vida vivida no limbo, cheiro de mato e terra molhada... ...
é isso e eh verdade
e eu?
eu te desejo...
desde quando?
desde sempre!
e o problema?
sempre petreo , cogente, imutável...
e a lua?
impossível nao pensar em vc...
e eu?
eu continuo a te fitar mesmo q te longe...
e os ósculos??
pacientemente, eu espero...
e os designios?
ao te ver,aumentam em projeção geometrica..
.
e e vc?
continuarah sendo minha menina, SEMPRE...
e eu?
termino sempre com uma virgula (,) "
a resposta:
"o amor é quando a gente mora um no outro"
por: poesiabruta
terça-feira, 12 de maio de 2009
Ensinamento
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com agua quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Adélia Prado
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Nada vai permanecer
No estado em que está
Eu só penso em ver você
Eu só quero te encontrar
Geleiras vão derreter
Estrelas vão se apagar
E eu pensando em ter você
Pelo tempo que durar
Coisas vão se transformar
Para desaparecer
E eu pensando em ficar
A vida a te transcorrer
E eu pensando em passar
Pela vida com você
sexta-feira, 17 de abril de 2009
eu: pedra e sabão
terça-feira, 14 de abril de 2009
Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe
valendo a pena e o preço terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.
C.D.A
quinta-feira, 26 de março de 2009
MUITAS CHANCES NUMA ÚNICA CHANCE
Telhados, ar condicionado, piso, rachaduras, ventiladores de teto. Ele mora na mesma quadra e nunca demora a vir.
Enquanto cimentava a escada do pátio, Leonel levantava altivamente o rosto quando provocava a figura materna. Atento, gargalhava a cada disparo de afeto.
Ao guardar a pá e o carrinho de mão, confessou:
- Minha mãe morreu quando nasci. Vejo vocês e tenho saudade da saudade.
Partilho semelhante inveja. Quando vou sozinho a um restaurante, não canso de espiar as conversas de casais. Eu me interesso pelos assuntos mais frívolos. Ponho a mão no queixo, o guardanapo nos joelhos e admiro o espetáculo da intimidade. O amor que pode ser amor ali, acontecendo em minha frente entre descrições de trabalho e confissões de meio-dia. O amor ali, camuflado e prosaico, mas devidamente forte para atravessar a morte e prometer vida eterna mesmo que não tenha eternidade depois. Mesmo que um dos dois sequer acredite em Deus.
Há gente que faz o contrário de Leonel. Mata o amor no momento em que ele nasce.
Pois não pensem que todos querem um amor grande. Reclamam, mas não querem.
Há gente que diminui o amor de propósito para não sofrer com ele. Elabora uma versão para provar que ele não existiu. Deixam o amor escapar, sumir, desaparecer para não se atrapalhar. Há gente que até se convence que aquele amor grande não era devidamente grande.
Há gente que pede um amor pequeno, doméstico, que não desestruture seus hábitos. Um amor anão de jardim, um amor de balcão, de pé, rápido. Um amor minúsculo, sem acento, que não rivalize o amor próprio. Que esteja próximo mas não fale alto, que esteja perto mas não influencie, que seja chamado quando se tem vontade e seja desfeito quando não serve mais.
O amor grande não traz uma felicidade constante - é a principal cilada -, traz uma felicidade irregular, intensa, atávica, que voa muito mais alto do que o conforto. Na estabilidade, é fácil sair da felicidade e da tristeza. No amor, descobrimos o quanto podemos ser felizes, e incomoda ter que buscar mais felicidade. Descobrimos o quanto podemos também ser tristes, e incomoda que não sairemos da tristeza sem que o amor volte.
Há gente que não tem esperança para se arrepender. Que sente ciúme de não ter sido assim antes e não se permite não ser mais como antes. Que vai terminar o amor para não se mostrar incompetente. Que prefere adiar o julgamento a se abrir para a verdade. Que não perdoa no momento de se perdoar. Um amor miúdo vai ao psiquiatra de manhã e termina a relação de noite. O amor grande termina com psiquiatra de manhã e se reconcilia à noite.
Porque o amor grande é uma insanidade lúcida, nem os melhores amigos entendem, é detratar e se retratar com mais freqüência do que se gostaria. Amor é o excesso de responsabilidade, de encargo, confiado a quem nos acompanha. Oferecemos o que não conseguimos alcançar.
Sempre seremos menores do que ele, já que é o único que cresce na extinção. Minha mãe costuma dizer que casamos quando encontramos uma solidão maior do que a nossa - só assim saímos da própria solidão.
Há gente, sim, que muda de amor para não mudar de opinião, que muda de homem para não mudar sua rotina, que manda onde não vigora poder e dominação. Que culpa o amor por não dar conta dele, que ama já pedindo desculpa por não amar.
O amor grande não é um grande amor.
Há gente, eu conheço, que desperdiça a chance do amor grande porque há apenas uma chance para amar grande. Muitas chances dentro de uma chance. O resto são disfarces, suturas, apoios.
Amor grande seria insuportável duas vezes nesta vida. Ou a gente se apequena para receber esse amor ou permanece se engrandecendo para não aceitá-lo.
Fabricio Carpinejar
sábado, 21 de março de 2009
segunda-feira, 16 de março de 2009
O que pode ser mais triste?
um tigre de circo, alguém
perdido?
uma promessa quebrada
como um brinquedo, um segredo
contado, terremoto, lar
desfeito, desejo (medo)
desperdiçado?
defeito, braço direito,
amputado, fósforo
molhado?
o que pode ser mais triste?
vaca, chuva, trapo?
criança calada, escravo?
poça, lago, vidro (amor
não correspondido)
embaçado?
palavra errada, guerra, marte?
pêndulo, empate?
feiúra, cegueira
fim de festa, falta
de vontade?
(uma coisa triste de)
verdade?
Arnaldo Antunes.
sexta-feira, 13 de março de 2009
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
quinta-feira, 12 de março de 2009
Este é o espírito da época... vamos entregar nossa vida a Deus! Vale tudo??
Igreja Renascer monta ringue de vale-tudo em templo para atrair mais jovens a culto em SP
APU GOMES
repórter-fotográfico da Folha de S.Paulo
DANIEL BERGAMASCO
da Folha de S.Paulo
Dois, três, quatro rounds e, com o perdedor estirado na lona, o pastor Mazola encerra a primeira série de lutas e anuncia o início do culto.
É 1h da madrugada de sábado e o templo da Igreja Renascer em Cristo em Alphaville, na Grande São Paulo, abriga seu primeiro campeonato de vale-tudo, esporte de combate que mescla modalidades como boxe e caratê. "Queremos atrair mais jovens", conta o bispo Leandro Miglioli, 33, de jeans e camiseta polo.
Sem álcool e cigarro, mas com a pancadaria tradicional do esporte, o festival reuniu frequentadores de academias da região para se enfrentarem no ringue colado ao altar. O público (bermuda, chinelo, tatuagem) vibrava.
O locutor do embate ficava no palco onde os pastores fazem as pregações. Na pausa para louvor no mesmo local, o pastor Mazola (cabeça raspada e camiseta regata de lutador) contou que já foi usuário de drogas e convocou os presentes a se converterem.
"Cerca de 60 jovens entregaram a vida para Jesus", diz Miglioli, que cadastrou nomes e telefones dos convertidos.
Culto encerrado, a luta continua -até depois das 3h30, cinco horas após começar. Satisfeita, a igreja fará outro campeonato neste ano.
"Um ringue ao lado do altar é inusitado, mas não extraordinário entre evangélicos", diz a antropóloga Clara Mafra, pesquisadora da religião. "Nos anos 1940, eles introduziram no Brasil guitarras em cultos. Nos anos 1950, a Assembleia de Deus fez concursos de miss entre as irmãs e não deu certo. A junção de sagrado e mundano causa estranheza, que pode ser ruim ou ter apelo como bom marketing religioso."
Jiu-jitsu
Duas vezes por semana, o mesmo templo da Renascer fica aberto para treinos de jiu-jitsu. "Quem vem aprende esporte e larga os vícios do mundão", diz Emerson Silva, 27, que se diz cético sobre as polêmicas envolvendo a igreja (prisão dos líderes por sonegação e críticas pela queda do teto de um templo que deixou nove mortos).
As lutas acontecem no fundo da igreja, após os cultos. "O primeiro foco é Deus, mas o esporte ajuda os jovens", diz Filipe Farias, 18, frequentador também da igreja Bola de Neve, que adota sintonia com esporte --no caso, uma prancha de surfe sobre o púlpito.
terça-feira, 10 de março de 2009
Mais um dia com a cartomante, mais um dia a ruminar lembranças, ávida por arrancar o cravo de minha alma, por colar no mosaico que sou uma peça que talvez viesse trazer sentido
Oxalá, hoje sei que dor de ranger os dentes se em noite de lua dói mais forte é só esperar que passa. Sei também que amor plantado sob sua luz brota e pode ate crescer, isso, talvez não passe nunca!Passar é diferente de acabar.
Busco o que sou e tudo já foi dito. Entre dentes murmuro a Deus minha inveja de Adélia a dizer do amor e da dor, Clarice e a barata de cada dia, Drumonnd com os sentimentos do mundo, Hilda a conter o coração... O desassossego de Pessoa habita em mim, a lucidez de Caio me cega os olhos. E foi tanto a embriagues de Mendes Campos que ando roxa de bater os joelhos pelas quinas. A poesia de Vinícius e a dignidade de Carpinejar alimentam meus sentidos. Na minha alma esta tatuado Rosa que brotou na pele feito marca de nascença.
Então é isso? Pus-me a pensar no caminho de volta ao trabalho, e por falar em trabalho...(deixemos o trabalho pra depois daria horas de palavras). Voltei a pensar na vida e sua ardilosa facúndia.
A vida que bebe seu sangue a conta gotas, mulher do tempo a te arranca o escalpo olhando pra ampulheta sem piedade.
Ah ... a ponta do novelo que não consigo achar, essa inaptidão pro exato, esse desconforto em estar nos lugares que me apertam os pés. Onde devesse estar então? Quase gritei.
E o mosaico que sou deveria estampar figuras cotidianas? Mais uma pergunta... sentei, pedi um café gelado. Minha cabeça doe de aperto. Cansaço é o que me toma por inteiro.
Devo estar inserida? Preciso estar... onde? O eu mosaico precisa de diploma, precisa ser manso, saber conviver, respeitar, começar, terminar... precisa de tanta coisa! Aprender pq nasceu, quem colou as primeiras pedras, quem o balançou em braços tão firmes. O eu mosaico precisa saber quem o dependurou na soleira pela primeira vez. Ele está perdido, procura onde se encaixar, procura a pedra que falta.
Quase no fim do café me saltou aos olhos que a vida te cospe na cara, te deixa de quatro, te chama de palhaço. Te coloca no banco ate que você aprenda as regras do jogo. E é preciso estar atento, o tempo é curto e você corre sim o risco de não entrar em campo.
Bebi até a ultima gota do meu café, fiz barulho com o canudinho, aquele barulho sem educação. Defenestrei a vida!
Thania Furbino – 10/03/2009